Ontem, fiz questão de publicar o discurso de Márcio Moreira Alves, para mostrar que a ditadura não foi uma luta entre terroristas e patriotas, como a direita gosta de colocar. Adotada essa lógica de guerra suja, ficam justificados todos os “excessos”. Por excessos entendam-se: assassinato, tortura, prisões arbitrárias, cassações de mandatos, demissões, etc.
Pela mesma razão, fiz questão de responder os muitos e-mails que recebi levantando falsas acusações contra Dilma. Mesmo sabendo que eles eram parte de uma campanha eleitoral na qual não apoio nenhum dos dois candidatos. O eixo da disputa agora se deslocou para a quebra do sigilo fiscal pessoas ligadas a Serra.
Correndo o risco de desagradas a gregos e goianos, volto a me posicionar. A motivação para a quebra do sigilo foi eleitoral. Existe uma indústria de dossiês e existem aloprados que os comercializam. O que falta esclarecer é a ligação desse crime com a campanha de Dilma. A justiça eleitoral foi acionada e não viu elementos para cassar o registro da candidata.
Usando uma metáfora Luliana, em decisão de Libertadores, ninguém apita de acordo com o livro de regras. O vídeo pode até mostrar que foi penalty, mas o juiz já mandou o jogo seguir. Como toda metáfora, essa não dá conta da realidade. Novos fatos podem surgir e a decisão pode ser mudada.
Além dos aspectos legais, éticos ou institucionais, que são muito importantes, eu me preocupo com suas consequências políticas. Durante o regime militar, adotou-se o lema: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Confundiu-se a pátria com os governantes e a oposição com a falta de amor ao Brasil. Ontem eu vi o nosso Presidente usar de lógica parecida.
Não quero ser injusto, comparando os atropelos à Constituição que ele comete com o terrorismo de estado. Lula trata o país como uma grande família. Nela existem os elementos “do contra”, que merecem um puxão de orelhas por não respeitarem os mais velhos. No caso, ele, nosso pai, e Dilma, nossa futura mãe. Essa é sua leitura dos fatos.
Nossa tradição política é personalista e paternalista. A atual campanha exacerbou essa prática. Um fato emblemático foi o de Dilma ter rubricado um programa para o TRE que não era o de sua coligação. Discutem-se pessoas e não projetos políticos. Exceção honrosa foi a intervenção de Plínio, no debate da Band, quando afirmou que não era candidato dele mesmo e sim dos movimentos sociais que o apoiavam.
O Brasil já teve um pai dos pobres, Getúlio. Hoje sua figura já pode ser avaliada em uma perspectiva mais ampla. Um dia, poderemos avaliar o governo Lula sob essa mesma ótica. Enquanto isso, defendo uma política que não coloque o povo no papel de torcedor, que da geral vaia ou aplaude os donos do espetáculo.
O que está vindo à tona agora são os bastidores da política. O mensalão mostrou que as alianças para garantir uma maioria parlamentar são feitas às custas do loteamento do Estado. Empresas estatais são negociadas de porteira fechada. A demissão da Secretária da Receita trouxe à luz o uso político da administração. A lógica da governabilidade diluiu as diferenças entre a esquerda no poder e a direita. Sarney, Collor, Maluf, entre outros, viraram aliados.
De novo, quero ser justo com esse governo. Ele não fez nada de diferente. Isso sempre existiu na história desse país.
Como é incômodo, se não impossível, explicar essas práticas, apela-se para a lógica das torcidas organizadas. O presidente do clube vai para a televisão pedir paz nos estádios e jogo limpo e os torcedores marcam encontros pela internet. Outro dia, recebi um manual de instruções indicando como proceder nesses confrontos virtuais.
Eu sou do tempo em que as torcidas se misturavam na arquibancada do Independência. Em que um torcedor do América, em dia de clássico, podia atravessar a torcida do Galo, sem ser molestado. Em que se ia a campo para ver futebol. Em que o couro comia dentro de campo, onde ninguém admitia perder.
Por isso vou continuar dando minha opinião de maneira bem humorada. Respondendo educadamente a todas postagens. Argumentando para convencer e não para humilhar. Sem desprezar fatos e sem desqualificar interlocutores. Vendo na eleição um momento de reflexão, uma oportunidade para discutir algo maior do que um amontoado de números e um desfilar de projetos, aquilo que realmente importa: o que o Brasil vai ser quando crescer? Que país nós queremos?
Muitos amigos meus e apoiadores vão votar na Dilma por considerar importante que se continuem e se aprofundem os avanços sociais desse governo. Respeito e entendo essa posição. Outros, que não conheço pessoalmente, lutaram de todas as formas contra o regime militar e apoiam sua candidatura. Tenho certeza que não o fazem por interesses menores. Não apóiam o fisiologismo e se sentem constrangidas com algumas alianças.
Conto com eles para que esse debate seja feito de maneira a elevar a consciência política de nosso povo.
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