sábado, 2 de outubro de 2010

Pedido

Por que eu peço o seu voto

Por que o voto é seu e deve ser valorizado. Minha proposta é fazer de você o dono do mandato. Como? Cadastrando-se no blog do mandato, você poderá discutir, acompanhar e votar nas matérias mais relevantes. O seu representante se obriga a seguir a maioria.
Quais são as minhas credenciais? Faço política desde a adolescência. Fui diretor da UNE, participei do movimento de associação de moradores, da luta sindical e, atualmente participo do movimento Poetas pela Paz.
Qual é a minha formação? Sou físico. Trabalho como auditor fiscal da Receita Federal. Professor de 90 a 94, Fiscal de Tributos da Prefeitura e Analista do Banco Central de 94 a 97. Conheço de perto a Contabilidade Pública, a Lei de Licitações e o Sistema Tributário brasileiro.
Quais as minhas prioridades? Educação, Cultura e Reforma Tributária. No restante do blog:, as propostas para essas áreas estão mais detalhadas.
Marco Lisboa - 3676

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Propostas para a Educação

Os indicadores de que dispomos mostram que o quadro da educação no Brasil é crítico. Como as mudanças em educação são lentas, precisamos atacar o problema imediatamente, sob pena de comprometermos o desenvolvimento do país pelas próximas gerações.
Uma análise mais aprofundada não deve se ater apenas aos aspectos quantitativos. São muitos os desafios a serem enfrentados. O maior deles é uma mudança na postura dos envolvidos no processo educacional:
Quem leciona sabe que a sala de aula deixou de ser um espaço que estimula a curiosidade e o senso crítico. Alunos e professores acabam se conformando com a aula expositiva tradicional, de cuspe, giz e caderninho. Essa atitude está se generalizando, inclusive na universidade.
A aprendizagem compete com o esporte, a balada, a mídia digital, o namoro e tantas outras atividades. O processo de socialização do adolescente mudou e esse é um fato positivo. Devemos tornar a atividade de aprender tão prazerosa quanto as outras.
A valorização da educação pode e deve vir da própria família. Pais que valorizam a cultura, o conhecimento, a atividade artística induzem nos filhos os mesmos interesses.
A própria sociedade tem um papel a cumprir nessa valorização. O professor deveria ter um salário condizente com o tempo que ele investe em sua formação e com o valor que agrega, transmitindo conhecimento.
Hoje em dia, proliferam os cursos superiores destinados às classes C e D, formando profissionais que não atendem às exigências da sociedade. São verdadeiras fábricas de diplomas. Essa visão mercantilista da educação deveria ser enfrentada com uma fiscalização mais exigente.
O Brasil tem uma tradição bacharelesca, herança de nosso passado escravista, que privilegia o diploma universitário. É necessário oferecer mais e melhores cursos técnicos de nível médio, melhorando a qualificação de nossa mão de obra. Há uma grande demanda, que, se atendida, resultará numa melhoria da distribuição de renda e num ponto de apoio para o nosso desenvolvimento.
A escola pública de primeiro e segundo graus se ressente ainda de melhores condições materiais. No afã de se melhorarem os indicadores numéricos, várias medidas equivocadas foram tomadas. As salas de aula funcionam com 40 ou mais alunos e já se fala em colocar dois professores nessa mesma sala, ao invés de se pensar em salas menores.
Em Belo Horizonte, vimos a implantação equivocada da Escola Plural, sem uma maior discussão. Por trás de um discurso aparentemente progressista, havia o desejo de contornar o problema da reprovação, que forçava a contratação de mais professores e o aumento do número de salas de aula.
Em relação à pedagogia, houve um claro retrocesso. A alfabetização, que era um processo natural, transformou-se num problema. Ela começa prematuramente e se estende pelo primeiro grau afora. A quantidade de analfabetos funcionais é assustadora.
Os testes do ENEM mostram que o nível da leitura só é satisfatório quando é cobrada uma informação explicitada no texto. Quando é necessário retirar uma inferência do texto, os índices estão muito abaixo do desejável.
Não é necessário dizer que a educação é um processo continuado e que a baixa qualidade do ensino de primeiro e segundo grau se reflete na Universidade.
Uma das causas dessa queda de qualidade é a própria massificação do ensino. Com a crescente urbanização e com o crescimento da renda das famílias, aumentou a demanda por educação, o que é positivo.  Esse aumento forçou um crescimento extensivo, em detrimento da qualidade.
A educação básica é responsabilidade do estado e do município. Por culpa de nosso sistema tributário injusto, alguns municípios mal geram receitas para pagarem os seus professores. Uma reforma tributária que corrija essas distorções é um dos pré-requisitos para a melhoria de nosso ensino.
No âmbito federal, cabe à União a atividade normativa e fiscalizadora. Nossa atuação será no sentido de promover, através da legislação pertinente, uma educação de qualidade, melhorando a formação de nossos professores e dando aos estados e municípios maior participação, tantos nos recursos, quanto nos processos decisórios. Em relação à Universidade, lutaremos para deter a mercantilização do ensino, impedindo a proliferação de cursos sem a qualificação necessária. Defendemos a gratuidade do ensino superior e a ampla oportunidade de acesso, que deve se dar através da melhoria da escola pública de primeiro e segundo graus. 

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Quebra de sigilo fiscal

Ontem, fiz questão de publicar o discurso de Márcio Moreira Alves, para mostrar que a ditadura não foi uma luta entre terroristas e patriotas, como a direita gosta de colocar. Adotada essa lógica de guerra suja, ficam justificados todos os “excessos”. Por excessos entendam-se: assassinato, tortura, prisões arbitrárias, cassações de mandatos, demissões, etc.

Pela mesma razão, fiz questão de responder os muitos e-mails que recebi levantando falsas acusações contra Dilma. Mesmo sabendo que eles eram parte de uma campanha eleitoral na qual não apoio nenhum dos dois candidatos. O eixo da disputa agora se deslocou para a quebra do sigilo fiscal pessoas ligadas a Serra.

Correndo o risco de desagradas a gregos e goianos, volto a me posicionar. A motivação para a quebra do sigilo foi eleitoral. Existe uma indústria de dossiês e existem aloprados que os comercializam. O que falta esclarecer é a ligação desse crime com a campanha de Dilma. A justiça eleitoral foi acionada e não viu elementos para cassar o registro da candidata.

Usando uma metáfora Luliana, em decisão de Libertadores, ninguém apita de acordo com o livro de regras. O vídeo pode até mostrar que foi penalty, mas o juiz já mandou o jogo seguir. Como toda metáfora, essa não dá conta da realidade. Novos fatos podem surgir e a decisão pode ser mudada.

Além dos aspectos legais, éticos ou institucionais, que são muito importantes, eu me preocupo com suas consequências políticas. Durante o regime militar, adotou-se o lema: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Confundiu-se a pátria com os governantes e a oposição com a falta de amor ao Brasil. Ontem eu vi o nosso Presidente usar de lógica parecida.

Não quero ser injusto, comparando os atropelos à Constituição que ele comete com o terrorismo de estado. Lula trata o país como uma grande família. Nela existem os elementos “do contra”, que merecem um puxão de orelhas por não respeitarem os mais velhos. No caso, ele, nosso pai, e Dilma, nossa futura mãe. Essa é sua leitura dos fatos.

Nossa tradição política é personalista e paternalista. A atual campanha exacerbou essa prática. Um fato emblemático foi o de Dilma ter rubricado um programa para o TRE que não era o de sua coligação. Discutem-se pessoas e não projetos políticos. Exceção honrosa foi a intervenção de Plínio, no debate da Band, quando afirmou que não era candidato dele mesmo e sim dos movimentos sociais que o apoiavam.

O Brasil já teve um pai dos pobres, Getúlio. Hoje sua figura já pode ser avaliada em uma perspectiva mais ampla. Um dia, poderemos avaliar o governo Lula sob essa mesma ótica. Enquanto isso, defendo uma política que não coloque o povo no papel de torcedor, que da geral vaia ou aplaude os donos do espetáculo.

O que está vindo à tona agora são os bastidores da política. O mensalão mostrou que as alianças para garantir uma maioria parlamentar são feitas às custas do loteamento do Estado. Empresas estatais são negociadas de porteira fechada. A demissão da Secretária da Receita trouxe à luz o uso político da administração. A lógica da governabilidade diluiu as diferenças entre a esquerda no poder e a direita. Sarney, Collor, Maluf, entre outros, viraram aliados.

De novo, quero ser justo com esse governo. Ele não fez nada de diferente. Isso sempre existiu na história desse país.

Como é incômodo, se não impossível, explicar essas práticas, apela-se para a lógica das torcidas organizadas. O presidente do clube vai para a televisão pedir paz nos estádios e jogo limpo e os torcedores marcam encontros pela internet. Outro dia, recebi um manual de instruções indicando como proceder nesses confrontos virtuais.

Eu sou do tempo em que as torcidas se misturavam na arquibancada do Independência. Em que um torcedor do América, em dia de clássico, podia atravessar a torcida do Galo, sem ser molestado. Em que se ia a campo para ver futebol. Em que o couro comia dentro de campo, onde ninguém admitia perder.

Por isso vou continuar dando minha opinião de maneira bem humorada. Respondendo educadamente a todas postagens. Argumentando para convencer e não para humilhar. Sem desprezar fatos e sem desqualificar interlocutores. Vendo na eleição um momento de reflexão, uma oportunidade para discutir algo maior do que um amontoado de números e um desfilar de projetos, aquilo que realmente importa: o que o Brasil vai ser quando crescer? Que país nós queremos?

Muitos amigos meus e apoiadores vão votar na Dilma por considerar importante que se continuem e se aprofundem os avanços sociais desse governo. Respeito e entendo essa posição. Outros, que não conheço pessoalmente, lutaram de todas as formas contra o regime militar e apoiam sua candidatura. Tenho certeza que não o fazem por interesses menores. Não apóiam o fisiologismo e se sentem constrangidas com algumas alianças.

Conto com eles para que esse debate seja feito de maneira a elevar a consciência política de nosso povo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

68, o ano que já acabou

Discurso pronunciado pelo Deputado Márcio Moreira Alves, ás vésperas do 7 de setembro, que custou a cassação do seu mandato e serviu de pretexto para a edição do AI-5.

"Senhor presidente, senhores deputados,

Todos reconhecem ou dizem reconhecer que a maioria das forças armadas não compactua com a cúpula militarista que perpetra violências e mantém este país sob regime de opressão. Creio ter chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por este repúdio à polícia. No entanto, isto não basta.

É preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a se estabelecer nesta Casa, por parte das mulheres parlamentares da Arena, o boicote ao militarismo. Vem aí o 7 de setembro.

As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile.

Esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje, no Brasil, que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa àqueles que vilipendiam-nas.

Recusassem aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam. Discordar em silêncio pouco adianta. Necessário se torna agir contra os que abusam das forças armadas, falando e agindo em seu nome. Creia-me senhor presidente, que é possível resolver esta farsa, esta democratura, este falso impedimento pelo boicote. Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre os civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia.

Só assim conseguiremos fazer com que os silenciosos que não compactuam com os desmandos de seus chefes, sigam o magnífico exemplo dos 14 oficiais de Crateús que tiveram a coragem e a hombridade de, publicamente, se manifestarem contra um ato ilegal e arbitrário dos seus superiores."

domingo, 29 de agosto de 2010

Propostas para a Cultura


Maiakóvski escreveu "Conversa sobre poesia com o Fiscal de Renda". Como poeta e fiscal de renda, achei oportuno retomar algumas discussões que esse poema levanta. O texto integral está nesse link:
http://schopenhauerperde.blogspot.com/2008/01/vladmir-maiakvski-1893-1930.html


No preâmbulo, Maiakóvski declara que veio tratar do “lugar do poeta na sociedade proletária”. Devemos entendê-lo em termos mais amplos, como um diálogo entre o artista e o poder.

“O meu trabalho a todo o outro trabalho é igual”. Marx criou a categoria de trabalho humano abstrato – dispêndio de energia humana, sem levar em conta como essa energia é dispendida. O artista, visto por esse prisma, integra a força de trabalho geral. Não houve, até hoje, sociedade em que a utilidade de seu trabalho fosse negada.

Mesmo na antiga União Soviética, onde poetas foram presos como parasitas, acusados de não trabalharem, a União dos Escritores garantia que seus membros recebessem uma remuneração adequada. A fórmula de cálculo levava em conta a tiragem e o número de páginas, entre outros fatores.

Essa é a reivindicação mais básica que pode haver. Sermos reconhecidos como trabalhadores. Com toda a implicação legal e todos os direitos que essa condição acarreta.

Maiakóvski salienta as dificuldades desse trabalho. “Onde encontrar, e a que tarifa, uma rima que mira e mate de uma vez? Dela talvez ainda sobrevivam cinco exemplares nos confins da Venezuela... Cidadão, condescenda, as passagens são caras! A poesia – toda – é uma viagem ao desconhecido.”

Uma vez encontrada a palavra certa, ela resplandece. “Essas palavras põem em luta milhões de corações por milhares de anos.” Ao poder soviético, não passou despercebida essa virtude. Zhdânov, o inventor do realismo socialista, proclamou que os escritores eram “engenheiros de almas”.

Esse é o grande perigo entranhado na relação entre o artista e o poder. Maiakóvski não era de maneira alguma hostil à nova sociedade. No entanto, foi tachado de ‘incompreensível para as massas”. A menina dos olhos do regime era o cinema, que atingia milhões. Mesmo essa arte de massas, sofreu com a ingerência estatal. O coração de Eisenstein não resistiu aos críticos tacanhos, que queriam uma revolução social, mas não toleravam a quebra de um cânone artístico, estabelecido por algum burocrata com veleidades intelectuais.

A arte, ainda que o artista tenha uma profunda preocupação social, não pode ser tutelada.

Por outro lado, há artistas que vêem no poder o Mecenas obrigado a subsidiar a sua genialidade. É comum esse artista lidar mal com as exigências burocráticas. O próprio Maiakóvski estava em dívida com o fisco. São conhecidos, no Brasil, vários casos de mau emprego de verbas públicas destinadas à cultura.

Toda relação entre o artista e o poder deve ser transparente.

Maiakóvski nunca pretendeu um lugar privilegiado para o artista na sociedade. Nunca fugiu do papel social de sua arte. “A nossa dívida é uivar com o verso, entre a névoa burguesa, boca brônzea de sirene. O poeta é o eterno devedor do universo e paga em dor porcentagens de pena.”

“Tudo o que quero é um palmo de terra ao lado dos mais pobres camponeses e obreiros” Modesto em suas exigências pessoais, certamente, ele atribuía à arte um papel privilegiado. “A palavra do poeta é a tua ressurreição, a tua imortalidade, cidadão burocrata. Daqui a séculos, do papel mudo, toma um verso e o tempo ressuscita.”

Ao lado desse caráter transcendente, a arte pode ter um alcance imediato. “... a rima do poeta é carícia, slogan, açoite, baioneta”. Maiakóvski não hesitou em fazer cartazes para ajudar no combate à difteria, nem temeu ser chamado de “o poeta da água fervida”. Defendeu, entretanto, com unhas e dentes o ofício do artista.

“Porém, se vocês pensam que se trata apenas de copiar palavras a esmo, eis aqui, camaradas, minha pena, podem escrever vocês mesmos.”

Nesses tempos de banalização geral, uma tarefa se impõe.

É necessário reafirmar o papel essencial da arte perante a sociedade.

A intenção de reviver esse poema de Maiakóvski, trazendo-o para os dias atuais, foi de balizar algumas idéias básicas. O nosso mandato será fruto de uma elaboração coletiva. Outras questões devem surgir, e estas idéias serão mais bem aclaradas. Este é apenas um ponto de partida, uma provocação.

A escolha do texto é também a confissão de uma influência. Maiakóvski estava constantemente se dirigindo a um público futuro. Ou dialogando com poetas passados, como o fez com Puchkin, no centenário de sua morte. E é o gancho perfeito para submetê-los a esse poema.

Conversação do fiscal de rendas sobre poesia

Há em mim um carniceiro

Que se alimenta da carcaça dos versos apodrecidos

Um açougueiro

Que vende em postas a carne quente dos poemas


Sem silicone, sem botox

Só a crueza do aço inox


Sei apenas que não ousaria tocar

Na unha suja do dedão do pé de Mítia Karamázov

Nunca faria lipoaspiração nas Três Graças

Nem photoshop no auto retrato de Rembrandt



Tudo mais é permitido

Em algum lugar do Brasil

Dizem que há uma repartição

Lá se vendem licenças poéticas



Há outra ainda

Onde sou um modesto fiscal de rendas

Que assinaria sem piscar

O auto de infração de Maiakóvski

E depois, para o consolar, lhe pagaria

Um traçado de cachaça com jurubeba


Ah, esses poetas de gravata amarela

Que não agüentam uma prensa

Qualquer ditadurazinha os derruba

Por qualquer vagaba eles se matam


Menos sensibilidade, camaradas poetas

Nada de cortar as artérias

A nossa intervenção há que ser cirúrgica

Somos apenas velhas parteiras

Induzindo a vida a parir poesia


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Reunião da área cultural

A reunião de amanhã vai ser um bate-papo descontraído sobre cultura. Nela devemos definir algumas metas para a campanha. Para elegermos um representante, não basta aquele voto conseguido por influência pessoal. Algém que vota em nós por ser nosso amigo, ou simpatizar conosco, normalmente, não atrai mais votos.

É preciso resgatar aquele comprometimento dos tempos das primeiras campanhas do PT, ou dos candidatos autênticos, onde cada um se transformava em um cabo eleitoral, por acreditar na justeza da campanha.

Essa sinergia, para se usar uma palavrinha moderna, pode ser conseguida através das redes sociais, desde que as idéias que a campanha defenda sejam de elaboração coletiva. Essa é a proposta de nosso mandato. Um mandato popular.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Mapa lá de casa

Sábado, 28, às 19:00, vamos fazer um bate-papo com os amigos da área cultural. Com direito a tropeiro, canjica, cerveja e cachaça da boa. O endereço é Rua Tocaios, 655. Meu telefone é 8863 1810.
Para quem não conhece o caminho, estou colocando um link para o googlemaps:

http://maps.google.com.br/maps/ms?doflg=ptk&ie=UTF8&msa=0&msid=116741399811334439065.00048eaac2c7a8cec59e0&ll=-19.924819,-43.912997&spn=0.009239,0.01929&z=16



Comece agora a ser dono desse mandato

Estamos convidando pessoas de diversas áreas para escreverem em nosso blog. Quem se interessar deve enviar um e-mail para:
deputadolisboa@gmail.com

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Uma reflexão sobre o Enem


Por que a Geração Y vai mal no ENEM?
Ana Elisa Ribeiro

Para todo lugar que se olha, há um inveterado leitor adulto condenando nossa juventude perdida por conta do resultado do ENEM, o Exame Nacional do Ensino Médio, que serve, digamos assim, para medir as habilidades de nossos não-leitores em relação à língua portuguesa.

A "mídia", esteja ela onde estiver (digo, no papel, na internet, no rádio), parece reagir à mesma pauta. Todos urubuzando o sucesso do desastre, como diria Renato Russo, em uma de suas músicas menos comentadas. Ordens são ordens, afinal. Diga aí, para a sociedade, que nossos jovens não leem nada e foram supermal na prova de português que o governo brasileiro aplicou.

Raramente se vê algum jornal ou coisa assim explicar, direitinho, como o ENEM é feito, para que ele serve, quem o patrocina, essas coisas que, afinal, interessam menos do que os gráficos dos resultados brutos. É chato ficar lendo explicações. Muito mais legal ler só a caixinha de texto da matéria. Já inspira bastante conversa de boteco, né não?

Sim, é verdade, o jovem brasileiro tem dificuldades para ler. Ah, só para lembrar de associar estes últimos dados a outros, os pais dos mesmos garotos têm as mesmas dificuldades. Dorme com essa.

O escopo do ENEM são os jovens concluintes do Ensino Médio. Na média, uma turma aí pelos 17 anos (se estiverem regulares na escola brasileira), com uns 11 anos de escolaridade (o tal Ensino Básico, que é Fundamental + Médio) e, atualmente, habituês desta tal Sociedade da Informação e do Conhecimento. Uma parte dessa turma teve acesso ao computador e à Web já na barriga de mamãe. Mas parece não ter tido acesso a outras coisinhas. Vamos lá: informação não garante conhecimento; acesso não garante habilidade.

O mesmo governo que mede as habilidades de leitura da turma é este (seja ele qual for, não me refiro ao governo Lula ou a qualquer outro especificamente, ok?) que desmontou a escola básica. E não apenas a pública, que levou a fama toda (você não se lembra, mas a escola pública já foi de dar orgulho à família inteira ― e elas ainda existem, em algumas ilhas). Desmontou também a escola privada, que não passa, na maioria das vezes, de uma empresa vendendo serviços, como qualquer outra. Educação, na boca de certos empresários, é palavrão. Para quê isso?

O ENEM é uma prova feita com base em matrizes de habilidades. O modelo de avaliação desse exame é importado. O Brasil é um dos países que mais recentemente aderiu a esse tipo de avaliação ou controle massivo dos níveis de desenvolvimento da população. O Banco Mundial está sempre envolvido nessas histórias, claro, mas o ENEM, assim como muitas outras avaliações, tem um lado muito positivo. Ao menos, hoje, a gente pode saber em que ponto da escala estamos, não é mesmo?

Habilidades são relacionadas a desenvolvimento cognitivo. Os exames do ENEM avaliam como os estudantes (em massa) se desenvolveram em português e em matemática. No português, aborda-se a leitura, em níveis de habilidades que vão ficando cada vez mais complexos. Ou... deveriam ficar. O que se nota, nos resultados da avaliação, é que os estudantes brasileiros desenvolvem apenas habilidades mais básicas para a leitura e não alcançam aquelas que dependem de um jogo mais complexo. Localizar uma informação explícita em um texto, por exemplo, é uma habilidade basicona. Nossos estudantes vão muito bem nela. Parabéns para nós, que ensinamos todo mundo a achar direitinho e rapidinho uma data, um nome de personagem, a cor do cavalo branco de Napoleão, mas quando a coisa fica mais difícil, fazer inferências, por exemplo, os nossos dados ficam no vermelho.

Lembra quando você estava no segundo grau? Era assim que se chamava, não era? Lembra daquelas questões dadas pelo professor que dependiam apenas de uma olhadela diagonal no texto para que se encontrasse a resposta? Pois é. Lembra daquelas questões tipo: "João foi com Maria ao cinema". "Quem foi ao cinema?" "João e Maria". Lembra disso? Pois é. Essas são as questões que complicam a turma que presta o ENEM. Ou melhor, pensando bem, é graças a essas questões da vida toda que nossos alunos não afundam mais.

Não há qualquer problema em saber localizar informações. Isso precisa ficar claro, claríssimo. É absolutamente necessário saber fazer isso. O problema é só saber operar assim, a vida toda, mesmo quando se está partindo para a vida adulta, universitária, profissional ou não. Lembra quando você perguntava ao professor se teria de ler "aquilo tudo" para encontrar a resposta? E lembra desta? "Professor, mas essa resposta não está no texto!". Pois é.

Mas não adianta pôr a culpa na garotada. Afinal, eles são a "Geração Y" ou os "Homo zappiens", como dizem os gringos por aí. Essa turma são os sensacionais multitarefa, que foram salvos pelo computador e pelo iPad. O ENEM é que precisa mudar, não é mesmo? Precisamos achar um jeito de capturar a coisa certa. O exame não cabe nesta geração. Meu jovem, o ENEM não te merece.

Bom, a questão é séria. Não me leve a mal, leitor (aliás, perceber ironia é uma habilidade complexa). O ENEM talvez não seja o melhor exame do mundo, e o leitor também não. Mas vamos atrás desse hipertexto: o livro didático em que o garoto estudou também não é, o professor que ele teve não foi dos mais bem-formados do país, a escola estava preocupada em colocar outdoors nas calçadas, os pais acham que comprar livros e ter acesso a bons produtos culturais é bobagem. Enfim... correlações importantes, elementos que colaborariam bastante para que o jovem fosse um leitor melhor. Refiro-me não apenas a ler Machado de Assis, mas a ler jornais, revistas, bilhetes.

Os resultados do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional apontam para o mesmo lado. O bacana de tudo é que o INAF vale para a população, e não apenas para os jovens estudantes. Garoto e garota, se precisar de contra-argumentos, mostre isso aos seus pais.

É claro que há bons leitores no país. Nem tudo está perdido. Há, sim, uma parcela (que se aproxima dos 30% da população) que consegue inferir coisas em um texto, por exemplo. Há quem consiga entender um texto de mais de uma página. O problema é que essas pessoas são a minoria. E isso não é coisa de brasileiro, como gostam de dizer nossos amigos curiosamente travestidos de europeus ou de "o outro". Estamos todos neste barco. Uns pra lá, outros pra cá, mas é por isso que formar professores, avaliar bons livros, formar bons autores, ter boas editoras e boas escolas não é conversa fiada. É fundamental. (Ei, isto não é com o vizinho, é com você.)

Não é o ENEM que vai mudar as coisas. O que muda tudo é provocar alterações nesse sistema inteiro. Vejam que fácil! Ensinar a ler bem não depende de escola e nem de cibercultura, mas se o caminho for por aí, que seja. O desenvolvimento das pessoas sempre pôde acontecer, mesmo quando os norte-americanos não haviam inventado o computador.

Pesquisas bacanas mostram que, por exemplo, nossos livros didáticos mais bem-formulados, aqueles que são top na avaliação desse tipo de material (que vem sendo feita há bastante tempo pelo governo), evoluem pouco nas questões de leitura, ou seja, os usuários desses livros não são demandados a desenvolver habilidades de leitura mais altas. Quando o livro é muito bom, cheio de provocações interessantes, o professor não o adota na escola, exatamente sob a alegação de que o livro é difícil de usar. O editor, então, passa a solicitar aos bons autores que "peguem leve", para que o livro não fuja muito da média. Vejam que encrenca! Para melhorar a nota no ENEM há uma solução: fazer perguntas mais fáceis. Isso mudaria todas as estatísticas. Não é assim que certas pessoas gostam de resolver as coisas? (E certas políticas...)

Alto lá, mas não vamos sacrificar o professor (mais ainda). Ainda bem que nem todo mundo se seduz pelas promessas das profissões imperiais. Há, sem dúvida, excelentes professores por aí, formados em escolas de ponta. É certo que nem sempre eles trabalham em escolas que os mereçam, mas há quem consiga trabalhar muito bem. Mas professor bem formado é aquele cara que estuda, estuda, estuda. Não se pode ser professor para passar o tempo. E professor bacana investiu, quer ganhar bem (e merece, como qualquer outro profissional). Professor legal quer ser respeitado, ter vida digna e tirar férias com a família. Professor bem-formado quer ser respeitado pela escola, pelo aluno e pelo livro didático. Professor inteligente sabe como formular questões interessantes, pensa em projetos de ensino, formula aulas, tem horizonte. Eles existem, sim. E poderiam existir mais, se pudessem seguir suas carreiras com dignidade.

Enfim, caro leitor, o ciclo se fecha, mas se fecha mal. Vale a pena, no final das contas, oferecer ao seu filho(a) (ou ao seu pai/sua mãe) um ambiente cultural mais motivador, mais exigente, digamos assim. Não apenas pelo ENEM, que vai colocar você na universidade, mas pelo desenvolvimento do país, que não pode ser grande sem pessoas legais e capazes de uma boa comunicação, na língua nacional. 

domingo, 15 de agosto de 2010

Separação entre Igreja e Estado

O Ministério Público Federal de São Paulo ajuizou ação pedindo a retirada dos símbolos religiosas das repartições publicas. Pois bem, veja o que diz o Frade Demetrius dos Santos Silva.
“Sou Padre católico e concordo plenamente com o Ministério Público de São Paulo, por querer retirar os símbolos religiosos das repartições públicas…
Nosso Estado é laico e não deve favorecer esta ou aquela religião.
A Cruz deve ser retirada!
Aliás, nunca gostei de ver a Cruz em Tribunais, onde os pobres têm menos direitos que os ricos e onde sentenças são barganhadas, vendidas e compradas.
Não quero mais ver a Cruz nas Câmaras legislativas, onde a corrupção é a moeda mais forte.
Não quero ver, também, a Cruz em delegacias, cadeias e quarteis, onde os pequenos são constrangidos e torturados.
Não quero ver, muito menos, a Cruz em prontos-socorros e hospitais, onde pessoas pobres morrem sem atendimento.
É preciso retirar a Cruz das repartições públicas, porque Cristo não abençoa a sórdida política brasileira, causa das desgraças; das misérias e sofrimentos dos pequenos; dos pobres e dos menos favorecidos”.
Frade Demetrius dos Santos Silva * São Paulo/SPFonte: FOLHA de SÃO PAULO, de 09/08/2009
Reproduzo por concordar com Frade Demetrius.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O que faz um deputado federal

O que faz um Deputado Federal?

O Brasil é uma república federativa. Nós temos três níveis de representação política: Federal, estadual e municipal. Em cada um desses níveis, temos uma divisão de poderes: o executivo, o legislativo e o judiciário.

No nível federal, o executivo é composto pelo Presidente da República, que governa com a ajuda de ministros e secretários, que, por sua vez, administram os funcionários públicos subordinados aos respectivos ministérios e secretárias.

O judiciário zela pela aplicação das leis e é convocado quando algum direito é lesado. É composto pelos juízos e tribunais federais de 2º grau e os tribunais superiores, como o Supremo Tribunal Federal que, além de ser uma última instância, exerce o papel de garantidor do cumprimento da Constituição.

O legislativo federal se compõe de Senado e Câmara Federal (o Congresso Nacional). Nosso sistema é bicameralista. Um deputado federal vota e apresenta projetos de leis. Um projeto aprovado na Câmara terá que passar pelo Senado e vice-versa.

As leis aprovadas valem para todo território nacional. Cada estado e município possui autonomia para votar suas próprias leis, dentro da competência que a Constituição lhes determina.

Nossa proposta é ouvir os eleitores cadastrados em nosso site, através de debates, enquetes e votações, sobre os projetos de lei mais relevantes, votando de acordo com a vontade da maioria.

Este foi um resumo muito simplificado, abordando apenas as características básicas. O papel de um deputado pode e deve ir muito além.

Um deputado vota o orçamento da União, que é proposto pelo Presidente e examinado pela Câmara e pelo Senado. Esse orçamento prevê como as receitas (provenientes de impostos e de outras fontes) serão gastas. Um exemplo: o orçamento prevê a conservação de uma rodovia federal. A verba prevista está incluída no total destinado ao Ministério dos Transportes. O projeto poderá ser vetado, ter sua verba reduzida ou remanejada para outro projeto.

Gostaríamos de sair da teoria, e mostrar como as coisas acontecem na vida real.

Muitos devem se lembrar do chamado escândalo dos “anões do orçamento”. Ele veio à tona em 1993, através das denúncias de um funcionário da Comissão de Orçamento do Congresso. Como a Contabilidade Pública é muito complexa, os deputados e senadores dependem de uma assessoria técnica para ajudá-los. Havia dois esquemas básicos de desvio de verbas:

- No primeiro, os parlamentares faziam emendas remetendo dinheiro para entidades filantrópicas ligadas a parentes e laranjas;

- No segundo, o mais importante, eram destinadas verbas para grandes obras, em troca de comissões pagas pelas empreiteiras.

Esse exemplo deixa claro como é importante que o Deputado que vá exercer um mandato popular possua um conhecimento adequado da máquina administrativa e uma assessoria de técnicos competentes.

Nossa proposta é que os funcionários de nosso gabinete sejam aprovados e indicados pelos nossos eleitores cadastrados, com base na sua competência, aproveitando, se possível, os funcionários de carreira.

Depois de aprovado o orçamento, o deputado pode acompanhar a sua execução, como as verbas estão sendo gastas. Isso é feito através do Tribunal de Contas da União, encarregado pelo Congresso de fazer a fiscalização externa desses gastos. Hoje, existem sistemas acessíveis aos parlamentares que permitem acompanhar esses gastos em tempo real.

Nossa proposta é oferecer acesso aos sistemas de acompanhamento dos gastos públicos a quem por eles se interessar.

Além dessas funções, um deputado exerce um papel eminentemente político. Ele tem à sua disposição jornais, televisões, internet e a própria tribuna para se manifestar sobre as grandes questões nacionais.

Nossa proposta é ouvir os eleitores cadastrados, através de enquetes, debates e votações realizadas no site do nosso mandato, sobre essas matérias, para ser efetivamente um representante de sua vontade.

Finalmente, um deputado pode participar de comissões especializadas, encarregadas de examinar os projetos de lei apresentados. Pode, também, participar das famosas Comissões Parlamentares de Inquérito.

Nossa proposta é tornar a atuação nessas comissões a mais transparente possível, respeitado o sigilo determinado por lei, divulgando aos nossos eleitores, em linguagem acessível, como estão sendo realizados esses trabalhos.

O trabalho de um deputado federal não se resume ao comparecimento às sessões da Câmara e de suas Comissões. Um mandato popular deve estar em contato permanente com os movimentos sociais, representado por sindicatos, associações e outras formas de organização.

Nossa proposta é ouvir sempre essas instâncias, disponibilizando um espaço no site do mandato para divulgação de suas propostas e realizações; utilizando o material aprovado em congressos, seminários e assembléias para embasar a nossa atuação.

Resumidamente, é esse o papel de um deputado e essas são as nossas propostas de como exercer um mandato popular.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Luiz Paulo Lyrio de Araújo


Hoje usarei esse espaço para lembra um amigo que faleceu recentemente: Luiz Paulo Lyrio de Araújo.



Fomos contemporâneos de Colégio Estadual. Ele no Clássico, eu no Científico. Isso foi no tempo em que o vestibular era feito por escola: para entrar na Escola de Engenharia, se fazia o vestibular de engenharia. As matérias eram Matemática, Física, Química e Desenho Geométrico. Quem preferia História, prestava vestibular para o Curso de História, da Faculdade de Filosofia, na Rua Carangola. Não sei quais eram as matérias cobradas.


Luiz optou pelas Ciências Humanas e eu, pelas desumanas. O sistema era muito complicado e foi substituído pelo atual vestibular.


O Colégio Estadual era famoso pela sua participação no movimento estudantil secundarista. E por sua efervescência cultural. Henfil foi meu contemporâneo. Os irmãos Amilcar e Roberto Martins também. Luiz participava ativamente do movimento estudantil. Eu tinha uma participação mais discreta. Empregava a maior parte das manhãs, jogando xadrez no salão do barbeiro Renard, e das tardes, jogando no Clube de Xadrez de Belo Horizonte, na Rua Carijós.


Isso foi em 1966, 67. Veio 68, o ano que já acabou, e perdi contato com o Luiz. A sua trajetória, assim como a de muitos amigos, foi narrada no seu livro “Nos idos de 68”. Ficamos quase quarenta anos, separados pelo tempo e pelo espaço. Foi justamente esse livro que acabou nos reaproximando.


Nesse meio tempo, Luiz seguiu lutando em duas frentes: como professor de História e como escritor. Escreveu um livrinho sobre a organização dos Grêmios Escolares, que deve ter ajudado muito o movimento secundarista a se reorganizar.


As reviravoltas da vida, que dispersaram aquela geração, foram nos endurecendo. Luiz continuou extremamente suscetível. Um comentário inocente, uma brincadeira de mau gosto, a mínima hostilidade, o abatia. Tinha aversão à burocracia. Quase todo ano, nos últimos dias de prazo, eu o ajudava com a sua declaração de imposto de renda. Com dois salários de professor, não haveria renda a tributar, se o nosso sistema fosse mais justo. Mesmo assim, não escapava da dentada do Leão.


Luiz tinha um olhar diferente, que o tornava um grande cronista. Seus contos nutriam-se da própria vida. Seus casamentos, seus amores, seus desenganos. Alguns eram simplesmente catárticos. Outros, quando ele conseguia se sobrepor ao sofrimento, eram deliciosos. Lembravam um pouco Gógol, de O capote e principalmente de O nariz.


Há um, meu preferido, A meio pau, que narra as desventuras de um órgão que escapa de seu dono. Ele jura que nunca leu O nariz. Eu acredito. A mesma sensibilidade fez com que Machado de Assis escrevesse “O Alienista” e Tchekhov “A enfermaria número 9”.


A elaboração de “Nos idos de 68” foi trabalhosa. Exigiu muita pesquisa histórica, muita leitura de periódicos da época. Luiz brincava dizendo que não tivera a sorte de ter sido torturado. Reclamava da imprensa e da televisão, que só queriam entrevistar os medalhões que haviam sido presos, torturados e até exilados. Sentia-se excluído. “Nos idos de 68” conta a história do ponto de vista da massa que participava dos movimentos estudantis. Esse é um dos grandes méritos do livro.


É pena que essa suscetibilidade o tornasse inseguro. Luiz queria ser lido, preocupava-se bastante com a reação do leitor. Há um público que espera que todo conto seja uma espécie de fábula moral, com personagens bonzinhos, retratando fielmente a realidade. E com um final edificante. Esse não pode ser nosso referencial.


Ele sofreu um choque, quando a publicação de “Nos idos de 68” acabou coincidindo com a morte trágica de um amigo em comum, que também participava do movimento estudantil. Sentiu-se culpado, talvez porque esse amigo não fosse retratado sob uma luz muito favorável. Entrou em depressão e foi internado no Hospital do Ipsemg.


Foi justamente aí, que a vida nos reaproximou. Eu estava na Receita Federal, do outro lado do Parque Municipal e acabara de conhecer uma grande amiga, Clevane Pessoa. Pesquisando sobre 68, para um romance que vivo escrevendo, soube do livro de Luiz. Clevane, que também era sua amiga, contou-me onde ele estava. Fui visitá-lo e passamos a nos ver com freqüência.


Foi o período da Revista Estalo, que promoveu concursos e lançou inúmeros poetas e escritores. Pela primeira vez, fui publicado em papel. A proposta era um tanto quixotesca e a revista acabou fechando, como tantas outras. Luiz lançou mais alguns livros, pagos pelo próprio bolso: “Marcas de Baton”, “Abdução”, a nova edição de “Nos idos de 68” e “Vida depois da morte”.


Eu era um pouco o seu Sancho Pança, ainda que ele não tivesse o físico do Cavalheiro da Triste Figura. Luiz não compreendia por que eu não me interessava em ser publicado, já que tinha dinheiro para bancar uma edição. Dizia que eu tinha obrigação de mostrar ao mundo a minha produção. Ser lido era um dever do escritor. Eu argumentava com o esquema cada vez mais mercantilista da literatura, com o número crescente de analfabetos funcionais, com a concorrência desleal das outras mídias. Dizia para ele: Luiz, meu amigo, seja menos Lyrico e mais Paulada. Não adiantava, ele seguia inconformado com o estado de nossas letras.


Mudou-se para Aracaju, em busca de ares mais amenos. Continuamos a nos falar pela Internet. Volta e meia, eu entrava no seu blog para deixar um comentário provocador. Nos últimos tempos, ele voltara a publicar um tablóide, Estalo, participava ativamente de vários movimentos culturais e parecia mais feliz. Infelizmente a saúde não ia bem. Havia sofrido três AVC e estava diabético. Fora fumante por muito tempo. Como a vida não é uma história com final feliz, morreu de câncer linfático, que não tem relação alguma com o fumo ou com a obesidade.


Antes de ele morrer, nos reencontramos no mesmo Ipsemg, numa quarta-feira. No domingo anterior, estava em Sete Lagoas, passando raiva com o meu Galo, quando o celular tocou. Era o filho André, contando que ele estava internado em estado grave. Na saída do jogo, falei com o próprio Luiz. A ligação estava toda cortada.


Minha mãe estava internada no Semper, pertinho do Ipsemg, com pneumonia. Na segunda, não tive tempo de visitá-lo. Na terça, cheguei quando o horário de visita havia terminado. Na quarta, conversamos um bom tempo. Foi a última vez que o vi. Achei que ele estava bem. Prometi que o veria sempre, embora, talvez, não pudesse ir todos os dias. Não pude voltar na quinta e nem na sexta. No fim de semana, seu filho me contou que ele estava no Otaviano Neves. Recebi a notícia de sua morte na segunda.


Luiz Paulo foi um batalhador abnegado. Lutou toda sua vida em defesa da cultura e da educação. Pagou com sua saúde e uma situação financeira precária. Não teve o sucesso que merecia, mas foi querido pelos que o conheceram de perto.


Se houver um outro lado, é justo que ele tenha um destino melhor. Imagino um céu dos escritores, onde não haja imposto de renda e nem Serasa. Onde as edições sejam em capa dura e papel couché e não custem um centavo. Onde não passe o BBB na televisão, só programas culturais. Onde seja proibida a entrada dos pitbulls de duas e de quatro patas. Onde os tablóide não falem de futebol e nem de crimes, só de lançamentos e resenhas de livros. Uma ou outra foto de uma beldade seminua, porque ninguém é de ferro. Onde o escritor tenha sempre um photoshop amigo. E as gostosas também. Onde o Luiz possa pitar seu cigarro, comer um tropeiro com bastante torresmo, precedido de uma pinga de Salinas, sem temer enfisema, colesterol, diabetes e balança. E numa roda de amigos, comentar com o Maurício, dando uma risada gostosa: esse Marco só escreve bobagem. Essa história de céu é um plágio barato do Brancalleone.


Sossega e aproveita, Luiz.


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Debate-boca


O debate da Band teve 6% de audiência contra 36% da Globo, que transmitia São Paulo e Internacional. Os vencedores foram Inter e Plínio Arruda.

Serra mostrou um visual um pouco diferente do tradicional Funereo, da família Adams. Na verdade, lembrou-me muito o velho Brizola. Foi seguro, não foi antipático e jogou uma casca de banana que faz a Dilma escorregar, quando perguntou sobre as Apaes.

Dilma estava nervosa, às vezes, esquecia de olhar para o telespectador, fez umas caretas comprometedoras e mostrou que não foi bem preparada para esse debate. Divagou muito.

Marina, embora relembre o tempo todo o seu passado pobre, usa uma linguagem que a distancia do povão. Derrapou, quando falou em falta de desatenção, ao invés de falta de atenção, ou, simplesmente, desatenção. Não gosto do seu tom professoral e do dedo em riste.

Plínio foi tranquilo. Perguntas claras e objetivas. Respostas concisas. Não fez demagogia. Pegou pesado na Marina, que poderia ser uma aliada contra o monopólio Dilma-Serra, quando foi necessário demarcar posições. Falou para os movimentos sociais e mostrou que não é candidato de si mesmo.

Foi lamentável a ausência do candidato do PSTU, Zé Maria. Num debate que se pretende democrático, todo o espectro de idéias deveria estar representado.

Espremendo tudo, sobrou muito pouco em termos de propostas e programas. Para a maioria, o que muda é o grau de simpatia ou de rejeição pelos candidatos. Minha previsão é que caminharemos para um segundo turno entre Dilma e Serra, dois candidatos com muito mais semelhanças de fundo do que divergências.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Cálculos eleitorais e eleitoreiros...

São 53 vagas para deputado federal em Minas. Vamos supor que esse ano tenhamos 10.600.000 votos válidos. Serão 200.000 votos por vaga. Esse é o quociente eleitoral. Quem conseguir essa votação estará eleito.

Na prática, um ou outro alcançará esse número. Digamos que uma coligação consiga 3.743.391 votos. Dividindo esses votos por 200 mil, teremos 18,716955. Esse é o chamado quociente partidário. Eles elegerão 18 deputados e terão uma sobra de 0,716955. Os eleitos serão os 18 mais votados dessa coligação.

Depois de usados todos os inteiros, teremos, por exemplo, 43 vagas preenchidas. As 10 restantes serão distribuídas segundo as sobras de cada partido ou coligação. A wikipedia explica como é feito esse cálculo.:
Algumas distorções costumam acontecer. Um exemplo: um partido lança um nome nacional como candidato (é o chamado puxador de votos). Eneas teve uma votação recorde em São Paulo. Elegeu-se e ainda levou alguns deputados do Prona para a câmara com uma votação de uns poucos mil votos. Eles eram praticamente desconhecidos.

Outra distorção. Os eleitos não são simplesmente os mais votados, no resultado geral. Na ultima eleição, tivemos deputados eleitos com 35.000 votos e outros que ficaram como suplentes com 67.000.

Todos os dados acima são reais, apenas arredondamos alguns números para facilitar.

Como consequência dessas regras, algumas coligações obrigam os partidos participantes a apresentarem um número determinado de candidatos. É facil entender por quê. Suponhamos que um partido queira eleger três candidatos. Ele lançará apenas esses três, que terão uma votação expressiva e usará o votos da coligação para elegê-los. Outro partido que apresentar muitos candidatos, com boa votação, poderá ter um número de votos maior, mas elegerá menos deputados dentro da coligação.

Dentro de um partido que tenha a esperança de eleger poucos deputados, os candidatos com muito potencial de votos são olhados com desconfiança. Já candidatos com pouca votação, serão bemvindos. É a nossa democracia.

Cálculos eleitorais e eleitoreiros...

São 53 vagas para deputado federal em Minas. Suponhamos que esse ano teremos 10.600.000 votos válidos. Serão 200.000 votos por vaga. Esse é o quociente eleitoral. Quem conseguir essa votação estará eleito.

Na prática, um ou outro alcançará esse número. Digamos que uma coligação consiga 3.743.391 votos. Dividindo esses votos por 200 mil teremos 18,716955. Esse é o chamado quociente partidário. Eles elegerão 18 deputados e terão uma sobra de 0,716955. Os eleitos serão os 18 mais votados dessa coligação.

Depois de usados todos os inteiros, teremos, por exemplo, 43 vagas preenchidas. As 10 restantes serão distribuídas segundo as sobras de cada partido ou coligação. A wikipedia explica como é feito esse cálculo.

Algumas distorções costumam acontecer. Um exemplo um partido lança um nome nacional como candidato (é o chamado puxador de votos). Eneas teve uma votação recorde em São Paulo. Elegeu-se e ainda levou alguns deputados do Prona para a câmara com uma votação de uns poucos mil votos. Eles eram praticamente desconhecidos.

Outra distorção. Os eleitos não são simplesmente os mais votados, no resultado geral. Na ultima eleição, tivemos deputados eleitos com 35.000 votos e outros que ficaram como suplentes com 67.000.

Todos os dados acima são reais, apenas arredondamos alguns números para facilitar.

Como consequência dessas regras, algumas coligações obrigam os partidos participantes a apresentarem um número determinado de candidatos. É facil entender por quê. Suponhamos que um partido queira eleger três candidatos. Ele lançará apenas esses três, que terão uma votação expressiva e usará o votos da coligação para elegê-los. Outro partido que apresentar muitos candidatos, com boa votação, poderá ter um número de votos maior, mas elegerá menos deputados dentro da coligação.

Por outro lado, dentro de um partido, que tenha a esperança de eleger poucos deputados, os candidatos com muito potencial de votos são olhados com desconfiança. Já candidatos com pouca votação, serão bemvindos. É a nossa democracia.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Entrevista para Clevane Pessoa

Recentemente, fui entrevista por uma grande amiga, Clevane Pessoa. Clevane é poeta, ilustradora, psicóloga, divulgadora cultural, um monte de pessoas numa só.
Esse é o link para o seu blog, com toda a entrevista:

http://clevanepessoaentrevistas.blogspot.com/2010/04/clevane-pessoa-entrevista-marco-aurelio.html

Como o texto é longo, eu o dividi em pedaços menores.


1- Sabemos que você, durantes os anos do Militarismo no Brasil, viveu clandestino. Fale um pouco da experiência de não poder usar o nome, voltar para casa, etc.


A clandestinidade era um meio para se atingir um fim: a derrubada do regime. De 71 a 73 fui diretor da UNE, sob a presidência de Honestino Guimarães. Depois disso tentei me integrar ao movimento operário, mas perdi o contato com o partido em 75 e permaneci assim até 79. Havia sido preso em maio de 71 e estava sendo procurado pelos órgãos da repressão. A perspectiva que tínhamos na época é que a luta contra o regime seria dura e prolongada. Alguns companheiros, de brincadeira, costumavam marcar encontros para o ano 2000, em Brasília, quando já estaríamos no poder.
Sabia que vários companheiros haviam sido presos tentando contatar a família. Foi o que aconteceu com José Carlos da Matta Machado, assassinado em seguida. Outros foram presos ao tentar recomeçar os estudos ou conseguir um emprego com o nome verdadeiro.
Eu conseguia me comunicar com a família através de cartas, que seguiam um longo caminho. Tinha plena consciência que tão cedo não poderia revê-los e nem usar meu nome verdadeiro, era uma conseqüência inevitável da minha militância.


2 - Como foi viver na clandestinidade? Que tipos de apuros passou?


Vivi a maior parte do tempo em pensões, quartos alugados e, durante uns meses, com uma família de nordestinos que trabalhavam numa indústria de móveis em São Paulo. Levei alguns sustos, porque a caída (prisão) de alguém era sempre uma ameaça em potencial à minha segurança. Em 73, tive que abandonar o Rio Grande do Sul às pressas, porque quase todos os meus contatos haviam sido presos.
Meu maior susto foi em 71. Estava num apartamento no Leblon, no Rio, e ainda não tinha uma identidade falsa. Um dia bateram à porta. Abri e um senhor de meia idade se identificou como sendo da Polícia Federal. Ele estava à procura de um tal de O’Reilly.

O apartamento tinha uma biblioteca (uma estante de tábuas e tijolos) cheia de livros marxistas e alguns romances. Dei tanta sorte que ele pegou um livro para examinar e escolheu um romance inofensivo. Em seguida pediu minha identidade e perguntou o que estava fazendo no Rio. Disse que estava morando com um amigo, enquanto estudava para o vestibular de economia.
Pelo visto, ele não acreditou muito em minha história e disse que eu teria que acompanhá-lo. A escada era em caracol, muito íngreme e de curvas muito fechadas. O apartamento ficava no terceiro ou quarto andar. Eu calculei que se saísse correndo na frente ele não teria visão para atirar.
Desci embalado, acelerando cada vez mais a cada volta. No último andar não consegui frear. A escada terminava em frente à entrada de serviço de outro apartamento. Com o impulso, arrombei a porta. Mal tive tempo de pegar os meus óculos no ar e não pude ver a cara da empregada, que estava com o forno aberto. Só a escutei gritando: “ai meu Deus, o que é isso!”.
Continuei correndo até a rua, dobrei o quarteirão e peguei um táxi. Eu tinha um ponto (encontro com data e hora pré-determinados) mais tarde e passei o resto do dia fazendo hora. O pé inchou, uma série de vasinhos se rompeu. Fiquei com anéis roxos em volta dos dedos dos pés e tive derrames até na dobra do joelho. Não quebrei nada, mas a luxação me deixou umas semanas sem poder andar direito.


3 - Dessas vivências, restou alguma crise de identidade?


Não, até penso que acabei me enriquecendo com novas visões. Convivi com operários e lumpen-proletários em pensões e bairros da periferia. Uma vez aconteceu um fato engraçado. Eu trabalhava como apontador para uma indústria de móveis em São Paulo - a fábrica de Móveis Pastore. Fui selecionado para fazer um teste. Eu iria fazer um curso para cronometrista. A prova era na Avenida Paulista, num prédio cheio de carpetes e vidros fumê. No dia marcado, não pude ir porque havia quebrado os meus óculos.
Finalmente, quando pude fazer o teste, fiquei junto com uma turma de engenheiros da Politécnica de São Paulo. Pedi um lápis para a psicóloga e ela me arrumou um com a ponta toda rombuda. Eu estava mal vestido e ela estava claramente me discriminando. Eu não pretendia me destacar, mas acho que a raiva me fez caprichar. Era um teste de raciocínio lógico abstrato, a minha praia.
Moral da história: pouco tempo depois, pedi demissão da empresa, porque iria para o Rio de Janeiro. Eles fizeram questão de me segurar, ofereceram um aumento e acabaram revelando a causa: eu havia conseguido a maior pontuação no teste. Para a psicóloga, deve ter sido uma demonstração prática de que as aparências enganam. Para mim, foi uma doce vingança.


segunda-feira, 26 de julho de 2010

3676 - um mandato popular

Esse blog é dedicado a campanha de Marco Lisboa a Deputado Federal. Sua proposta é usar a Internet como instrumento de um mandato popular. Exercer a democracia direta. Esse é um espaço de debates, decisões e encaminhamentos para a nossa campanha.




Uma breve apresentação:
Sou casado, pai de três filhos, formado em Física pela UFMG.
Militei no PC do B de 1969 a 1983. Preso em 1971, fiquei nove anos na clandestinidade. Fui diretor da UNE na gestão Honestino Guimarães, de 71 a 73. 
Exerci os cargos de Agente Administrativo da UFMG, Professor da rede pública municipal, Fiscal de tributos da Prefeitura de BH e funcionário do Banco Central, sempre através de concurso público. Atualmente, sou Auditor Fiscal da Receita  Federal. 
Sou escritor, contista e poeta. No meu blog www.elsenorgato.blogspot.com, venho publicando os capítulos de meu livro sobre a guerrilha do Araguaia, onde morreram vários amigos e companheiros de luta.
Além das questões mais gerais, pretendo me dedicar  a três temas: educação, cultura e reforma tributária.